Câncer de Mama: Guia Completo sobre Causas, Fatores de Risco e Prevenção | Dr. Wesley Andrade

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma. Ele representa cerca de 28% dos novos casos de câncer em mulheres, sendo também diagnosticado em homens, embora raramente (menos de 1% dos casos). 

Incidência no mundo

Globalmente, o câncer de mama ultrapassou o câncer de pulmão como o tipo de câncer mais comumente diagnosticado. Em 2025, são esperados cerca de 2,3 milhões de novos casos, representando aproximadamente 11,7% de todos os casos de câncer. Estima-se que 1 em cada 10 mulheres desenvolva câncer de mama ao longo da vida.

Por que os casos de câncer de mama estão aumentando no mundo?

As taxas de incidência do câncer de mama estão em crescimento tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. Esse aumento está diretamente relacionado a mudanças no estilo de vida e a fatores reprodutivos cada vez mais comuns na sociedade moderna.

Entre os principais fatores de risco para o câncer de mama, destacam-se:

  • Início precoce da menstruação (menarca)

  • Menopausa tardia

  • Ausência de gestações

  • Não amamentar

  • Sedentarismo, alimentação inadequada e obesidade

Essas condições alteram a exposição hormonal ao longo da vida da mulher, aumentando o risco de desenvolver tumores mamários. Por isso, é fundamental adotar hábitos de vida saudáveis e realizar o rastreamento precoce com acompanhamento médico regular.

Se você deseja saber como reduzir o risco de câncer de mama, clique aqui e confira as principais estratégias de prevenção.

Iniciativas globais e prevenção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estão implementando várias iniciativas para combater o câncer de mama. Estas incluem o aumento do acesso à detecção precoce, tratamento adequado e cuidados paliativos, além da promoção de campanhas de conscientização pública sobre os fatores de risco e prevenção. O Dia Mundial do Câncer é uma dessas iniciativas, com o objetivo de reduzir a incidência e a mortalidade por meio de esforços globais coordenados (World Health Organization (WHO) (PAHO).

Essas medidas são essenciais, pois o diagnóstico precoce e o tratamento adequado aumentam significativamente as chances de sobrevivência e melhoram a qualidade de vida dos pacientes.

Clique aqui e entenda as lesões percussoras do câncer

Estrutura da mama

Conceito e função

As mamas, ou glândulas mamárias, têm funções importantes, principalmente em mulheres.
Sua principal função é a produção de leite materno para nutrir os bebês, graças ao tecido glandular e aos ductos que transportam o leite até o mamilo.

Além da lactação, as mamas têm um papel significativo na feminilidade e sexualidade da mulher. Elas respondem a hormônios como estrógeno e progesterona, que influenciam seu desenvolvimento e mudanças durante a adolescência, ciclos menstruais, gravidez e menopausa, e também estão relacionados ao câncer de mama.
Nos homens, as mamas estão presentes, mas em um estado menos desenvolvido e com funções limitadas.

Ilustração das mamas

Anatomia

As mamas estão localizadas na região anterior do tórax, entre a 2ª e a 6ª costela verticalmente, e entre a borda lateral do esterno e a linha axilar média horizontalmente. Um prolongamento mamário pode se estender até a axila, conhecido como prolongamento axilar da mama. Entre a mama e o músculo peitoral subjacente, há o espaço retromamário, contendo gordura e tecido conjuntivo frouxo, permitindo certa movimentação da mama.

Infográfico apresenta anatomia da mama

O tamanho e a forma das mamas variam conforme fatores genéticos, étnicos, dietéticos, idade, ciclo menstrual e número de filhos. As mamas são geralmente levemente assimétricas e podem ser pendulares, com aparência cônica.

Anatomia externa da mama

  • Mamilo: projeção com ductos que transportam o leite.
  • Aréola: área pigmentada ao redor do mamilo, contendo glândulas sudoríparas e sebáceas, incluindo as glândulas de Montgomery.
  • Pele: revestimento de tecido conjuntivo que envolve e sustenta a mama.

Anatomia interna da mama

  • Alvéolos: unidades funcionais produtoras de leite.
  • Lóbulos: conjuntos de alvéolos.
  • Lobos: conjuntos de lóbulos.
  • Ductos principais: canais que transportam leite dos lobos ao mamilo.
  • Ligamento de Cooper: tecido fibroso que sustenta internamente as glândulas mamárias
  • Região central (RC): localizada atrás da aréola.

Região central (RC): localizada atrás da aréola.

Ilustração apresenta os quadrantes da mama

A divisão em quadrantes é essencial para uma comunicação clara entre profissionais de saúde, permitindo a descrição precisa de lesões e facilitando o planejamento de biópsias, cirurgias e radioterapia, melhorando a eficácia do tratamento.

Microestrutura anatômica e produção de leite

As unidades glandulares das mamas são os lóbulos, compostos por alvéolos que produzem leite. Os alvéolos, cercados por tecido conjuntivo rico em linfócitos e plasmócitos, fornecem imunidade passiva ao recém-nascido. As células mioepiteliais dos alvéolos empurram o leite para os ductos lactíferos, que transportam o leite até os mamilos.

As mamas também contêm tecido adiposo, que suporta e preenche os espaços entre as estruturas glandulares, além de vasos sanguíneos e linfáticos que nutrem as células e drenam líquidos e toxinas. Na base do mamilo, os ductos lactíferos se dividem em 15-20 orifícios, conectando-se a um sistema de ductos e lóbulos.

Microestrutura anatomia mama - alvéolos

O que é câncer de mama?

O câncer de mama é um crescimento descontrolado de células devido a mutações nos genes reguladores do crescimento celular. Essas mutações alteram o funcionamento das células, que se dividem sem controle, formando o câncer.
Geralmente, o câncer de mama começa nos lóbulos (glândulas produtoras de leite) ou nos ductos (passagens que drenam o leite). Pode se espalhar para tecidos próximos, linfonodos nas axilas (metástase ganglionar), e outras partes do corpo via corrente sanguínea (metástases sistêmicas).
Apenas 5-10% dos casos são hereditários, resultantes de mutações genéticas passadas de pais para filhos. A maioria dos casos (85-90%) ocorre devido ao envelhecimento e desgaste ao longo da vida.

Infográfico apresenta multiplicação das células

Causas e mutações

• Causas: o câncer de mama resulta de mutações genéticas:

 • 90% das mutações são adquiridas ao longo da vida (não hereditárias).
 • 10% são hereditárias, transmitidas pelos pais.

 

• Mecanismos velulares: 

 • Proto-oncogenes: genes que regulam o crescimento celular. Quando mutados, tornam-se oncogenes e podem levar ao câncer.
 • Genes supressores de tumor: controlam a divisão celular e reparo do DNA. Mutações nesses genes podem causar câncer.

 

Mutações genéticas:

 • Hereditárias:

   • Características: presentes desde o nascimento e podem aumentar o risco de câncer, como os genes BRCA1 e BRCA2.
   •  Testes Genéticos: identificam mutações em genes como BRCA1, BRCA2, TP53, entre outros.
   •  Gerenciamento: mulheres com mutações hereditárias podem adotar medidas preventivas e realizar triagens precoces.

 

Adquiridas:

 •  Características: ocorrem ao longo da vida, não herdadas.
 • Causas: podem ser resultado de radiação, produtos químicos, ou eventos aleatórios.
 • Fatores de risco: incluem estilo de vida, como dieta, exercício, peso, consumo de álcool e tabagismo.

Onde o câncer começa

Entenda a relação anatômica e histológica (tipo de células presente em cada parte da mama) e os possíveis tipos de cânceres que podem se originar em cada região da mama.

• Lóbulos:
 • Função: produção de leite materno.
 • Câncer: carcinomas lobulares.


• Ductos:
 • Função: transporte do leite dos lóbulos até o mamilo.
 • Câncer: carcinomas ductais (mais comum).


Mamilo:
 • Função: exteriorização dos ductos, permitindo a saída do leite.
 • Câncer: doença de Paget da mama.


Estroma:
 • Função: suporte estrutural, envolvendo e mantendo os ductos e lóbulos.
 • Câncer: tumor phyllodes.


Vasos sanguíneos e linfáticos:
 • Função: irrigação sanguínea e fluxo linfático da mama.
 • Câncer: angiossarcoma e linfangiossarcoma.

Infográfico apresenta estrutura da mama - lobo e duto

Número de casos por tipo e idade – epidemiologia

Principais cânceres em mulheres no Brasil – 2025:

 • Câncer de mama: 73.610 casos (30,1%).

 • Câncer de cólon e reto: 23.660 casos (9,7%).

 • Câncer de colo do útero: 17.010 casos (7,0%).

 • Câncer de traqueia, brônquio e pulmão: 14.540 casos (6,0%).

 • Câncer de glândula tireoide: 14.160 casos (5,4%).

 • Câncer de estômago: 8.140 casos (3,3%).

 • Câncer de corpo do útero: 7.840 casos (3,2%).

 • Câncer de ovário: 7.310 casos (3,0%). • Câncer de pâncreas: 5.690 casos (2,3%).

 • Linfoma não hodgkin: 5.620 casos (2,3%)

O câncer de mama representa uma porcentagem maior do que a soma dos casos dos três tipos seguintes, sublinhando sua importância como problema de saúde públic

O câncer de mama representa uma porcentagem maior do que a soma dos casos dos três tipos seguintes, sublinhando sua importância como problema de saúde pública.

Nos Estados Unidos

• Câncer de mama: é o mais comum entre as mulheres (excluindo cânceres de pele), representando cerca de 30% de todos os novos casos de câncer feminino.

 

• Estimativas: aproximadamente 300.000 novos casos anuais.
Esses dados ressaltam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, refletindo a gravidade do problema tanto global quanto localmente.

Infográfico apresenta incidência de câncer
Infográfico apresenta incidência do câncer em homens e mulheres

Incidência por idade

A probabilidade de desenvolver câncer de mama aumenta com a idade. Mulheres com menos de 40 anos têm taxas baixas de câncer de mama, representando apenas 3% a 4% dos casos diagnosticados nos EUA. As taxas de câncer de mama aumentam após os 40 anos, sendo mais altas em mulheres com mais de 70 anos. Nos EUA, a idade média para o diagnóstico é de 63 anos. Isso significa que metade das mulheres são diagnosticadas antes dos 63 anos e a outra metade após essa idade.

Mulheres negras americanas costumam ser diagnosticadas mais jovens do que mulheres brancas americanas. De 2016 a 2020, a idade média de diagnóstico para mulheres negras foi de 60 anos, comparada a 64 anos para mulheres brancas.

Fatores de risco

• Sexo: 

 • Ser mulher é o principal fator de risco, com uma proporção de aproximadamente 100 casos em mulheres para 1 em homens. No brasil, esperam-se 73.610 casos em mulheres e 730 em homens para este ano.

 

• Envelhecimento: 

 • O risco aumenta com a idade, especialmente após os 50 anos. O desgaste do ciclo celular e mutações genéticas são mais comuns com a idade, levando ao crescimento celular descontrolado.


• Histórico familiar: 

 • Ter parentes de primeiro grau com câncer de mama, especialmente se diagnosticado em idade jovem, aumenta o risco.


• Mutação genética:

 • Mutações em genes como brca1, brca2, palb2 e tp53 elevam significativamente o risco.


• Exposição a estrogênio: 

 • Exposições prolongadas ao estrogênio, seja por terapia hormonal, contraceptivos ou menarca precoce e menopausa tardia, podem aumentar o risco.


• Menstruação precoce e menopausa tardia: 

 • Início precoce da menstruação e menopausa tardia aumentam o risco devido à maior exposição estrogênica ao longo da vida.


• Terapia de reposição hormonal: 

 • Uso prolongado de terapia hormonal após a menopausa eleva o risco.


• Densidade mamária alta: 

 • Tecido mamário denso pode ocultar cânceres em mamografias e aumentar o risco.

 

• Histórico pessoal de câncer de mama: 

 • Ter tido câncer de mama em uma mama aumenta o risco de desenvolver na outra ou ter recidiva.

 

• Histórico de lesões proliferativas: 

 • Lesões não cancerosas, como hiperplasia atípica ou carcinoma lobular in situ, podem aumentar o risco.


• Radiação na região do tórax: 

 • Tratamentos de radiação na área do tórax, especialmente na infância, aumentam o risco.


• Obesidade: 

 • Estar acima do peso ou obeso, particularmente após a menopausa, está associado a um maior risco.

É importante notar que ter um ou mais desses fatores de risco não garante o desenvolvimento do câncer de mama, e algumas dessas condições são modificáveis, o que pode ajudar a reduzir o risco.

Fatores de proteção

• Exercícios físicos regulares: 

 • A atividade física mantém um peso saudável, reduz o risco de obesidade e níveis elevados de estrogênio, e fortalece o sistema imunológico.

 

Dieta equilibrada e saudável: 

 • Uma dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais e baixa em gorduras saturadas ajuda a reduzir o risco. Alimentos antioxidantes e ricos em fibras são particularmente benéficos.


Manutenção de um peso corporal saudável:

 • Evitar a obesidade, especialmente após a menopausa, pode reduzir o risco de câncer de mama.

 

Limitar o consumo de álcool:

 • Reduzir a ingestão de álcool pode diminuir o risco de câncer de mama.


Limitar o uso de terapia de reposição hormonal (trh):

 • O uso prolongado de trh, especialmente combinando estrogênio e progesterona, está associado a um aumento do risco. O uso deve ser limitado a no máximo 5 anos.


Educação sobre riscos genéticos e histórico familiar:

 • Conhecer o histórico familiar e possíveis mutações genéticas pode ajudar na adoção de estratégias de prevenção e rastreamento precoce.


Gravidez precoce: 

 • Engravidar antes dos 30 anos pode reduzir o risco de câncer de mama devido a alterações hormonais e diferenciação das células mamárias.


Amamentação: 

 • Amamentar por um período prolongado pode contribuir para a redução do risco devido às alterações hormonais benéficas e eliminação de células potencialmente danificadas.

Esses fatores de proteção não garantem a prevenção do câncer de mama, mas podem significativamente reduzir o risco. É fundamental combinar hábitos saudáveis com consultas regulares ao médico e estratégias de prevenção personalizadas.

Ilustração de muher correndo no parque

Cálculo de risco individual

Fatores de risco

Fatores não modificáveis:
 • Idade/envelhecimento: o risco aumenta com a idade.
 • Histórico familiar: parentes de primeiro grau com câncer de mama.
 • Hereditariedade/mutação genética: mutações em genes como brca1 e brca2.
 • Menarca precoce e menopausa tardia: menarca antes dos 12 anos e menopausa após os 55 anos.
 •Densidade mamária: tecido mamário denso.
 
Fatores modificáveis:
 • Obesidade: aumenta o risco em 30%, passando de 10% para 13%.
 • Dieta pobre e rica em ultraprocessados: aumenta o risco em 20%, passando de 10% para 12%.
 • Consumo excessivo de álcool: aumenta o risco em 20%, passando de 10% para 12%.
 • Sedentarismo: aumenta o risco em 20%, passando de 10% para 12%.
 • Terapia de reposição hormonal (trh): aumenta o risco em 20%, passando de 10% para 12%.

Fatores reprodutivos:
 • Não ter filhos ou ter filhos tardiamente: aumenta o risco.
 • Não amamentar: pode contribuir para o aumento do risco.

Exemplos de cálculo de risco

Exemplo 1: mulher obesa, que ingere álcool moderadamente e usa trh.

Risco basal: 10%
Aumento por obesidade: 30% (10% x 1,3 = 13%)
Aumento por álcool: 20% (13% x 1,2 = 15,6%)
Aumento por trh: 20% (15,6% x 1,2 = 18,7%)

Exemplo 2: mulher com menarca precoce, sem filhos, não amamenta, obesa, ingere álcool e usa TRH.

Risco basal: 10%
Aumento por fatores biológicos e modificáveis pode levar o risco a cerca de 40%.

Conhecer os fatores de risco e manter hábitos saudáveis pode ajudar a reduzir o risco de câncer de mama. Estratégias para reduzir o risco incluem uma dieta saudável, exercícios físicos regulares, controle do peso, limitação do consumo de álcool e cuidados com a terapia hormonal. É crucial monitorar esses fatores e realizar consultas regulares com profissionais de saúde.

Infográfico apresenta os fatores de risco do câncer de mama